Algumas observações sobre o debate crítico

Capítulo 4

Algumas observações sobre o debate crítico relativo à produção dos anos 80





            Transvanguarda foi um termo criado por Achille Bonito Oliva. Em Transvanguardia Italiana (1980), Oliva menciona um nomadismo cultural e ecletismo estilístico, uma arte marcada por citações. Seriam “Linguagens próximas e distantes, abstratas e figurativas, internacionais e autóctones, experimentais e tradicionais, cultas e populares convivem numa obra que utiliza estilos de arte como ‘ready-made’, formas pesquisadas através da memória e livremente reconvertidas em obra.” (1998, p. 106). Bonito Oliva inclui Basquiat em sua lista de artistas pertencentes à Transvaguarda internacional (Id. Ib., p. 59). De fato, observamos o trabalho de Jean-Michel repleto de citações: da história da arte, como Olympia de Manet; de ordem política, como ao escrever “Samo does not cause cancer in laboratory animal” (imagem 11); ou de ordem religiosa, como ao mostrar auréolas e tridentes (imagem 6). Ao contrário do que o aspecto casual das citações, em sua materialidade informal do graffiti, pode indicar como superficial, elas se articulam no conjunto da sua obra como que estruturando numa poética bastante pessoal, que menciona sua condição de indivíduo único e sua dimensão de indivíduo socialmente construído — negro, bissexual, filho de imigrantes, urbano, e simultaneamente culto e marginal.
            Ricardo Basbaum fez uma releitura na teoria da Transvanguarda no artigo “Pintura dos anos 80: algumas observações críticas”, onde ele destaca que Bonito Oliva construiu um conjunto de afirmações teóricas que auxilia a legitimação da pintura transvanguardista internacionalmente, e que outras tendências, como o Neo-expressionismo, a Nova Imagem, a Figuração Livre, não se apresentariam organizadas sob um corpo teórico coeso e estruturado, como é a Transvanguarda (2001, p. 299).
            Germano Celant opõe-se veementemente contra o chamado “Neo-expressionismo”. Para ele seria um retorno ao primitivo trabalho artístico, onde termos como “espiritualidade”, “gênio”, “beleza” — utilizados para denominar esse tipo de arte — retornariam a uma arte quase sagrada, e isto estimularia o mercado, que trabalharia no âmbito do inexplicável. Assim, ao dizer que o Neo-expressionismo preserva a institucionalidade da arte, afirmaria, por conseguinte, o descompromisso do artista com o “fazer artístico”. Pintores ao utilizarem a comunicação pelas cores agressivas, retomando a figuração, exaltando questões pessoais, estariam suscitando o sentimentalismo, a emotividade, a inspiração — o que serviria para evocar a figura do artista-herói, já que dessa forma, a arte parece ser resultado do subconsciente, é impulsiva, instintiva e irracional, indo em oposição a uma arte investigativa e reflexiva. Isto o fez sinalizar a existência do que ele chama de “Unexpressionism”, que seria um termo que demonstraria não uma oposição ao conhecimento através da inspiração ou da invenção, mas trabalharia a imagem de uma forma distinta, através da combinação, reprodução, montagem e outras inúmeras possibilidades, ou seja, uma arte reflexiva, sem conteúdo romântico (1989, p.13).

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