Um longo caminho até Bagan

"Você não sabe o quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui
Percorri milhas e milhas antes de dormir
Eu nem cochilei..."

Cidade Negra


Antes da viagem realizada em 2016 para a Ásia, tinha visitado o continente em 2013 e 2014, mas Mianmar não entrou no roteiro em razão do pouco tempo disponível para conhecer muitos lugares e também em virtude da dificuldade para obter o visto (a maioria das pessoas pediam em Bangkok).

Para facilitar a vida do viajante, desde 2015 o país começou a emitir o visto online e passei a pensar com mais entusiasmo em visitar a Birmânia. Na última semana de agosto vi uma promoção para a Tailândia e adquiri a passagem para o fim de setembro. Com um mês para organizar o roteiro, pedi o visto no dia seguinte da compra. 

Alguns templos em Bagan
Tinha uma única certeza: visitaria Bagan, a cidade com 2 mil templos, em Mianmar (ou Myanmar, Burma, Birmânia). Conto aqui como emitir o visto. 

É bom ter uma ideia do que quer visitar antes de pedir o visto. Não sei se antigamente só entrava pela capital, Yangon, mas encontrei essa informação em alguns blogs. Hoje o site disponibiliza 6 opções de entrada (3 aeroportos). Meu objetivo era conhecer Bagan, logo, optei por Mandalay, por ser a cidade mais próxima (de 4 a 6 horas de van), mas Yangon tem mais opções de voos, por exemplo, e tem ônibus noturno (10 horas) até Bagan. 

Primeiro cogitei ir para Mandalay no mesmo dia da chegada em Bangkok - o voo tinha previsão de chegar 7h da manhã na capital da Tailândia e o voo para Mandalay, saindo do aeroporto Don Muang, partiria às 10:50h, mas desisti, pois estaria muito cansada e conexões no mesmo dia são sempre arriscadas em razão de eventuais atrasos. Preferi passar um dia em Bangkok.

Comprei a passagem (73 dólares com bagagem até 20 quilos, lanche e direito de escolher o lugar) para Mandalay na Airsia, que tem um voo diário de Bangkok para Mandalay, mas para Yangon existem mais opções em outras companhias aéreas. 

Não voo de qualquer outro país direto para Bagan, mas existem voos desde Mandalay e Yangon. E, por incrível que pareça, Myanmar tem muitas companhias aéreas. Observei que os voos diretos aumentam a frequência a partir de outubro (considerada alta temporada pelo fim das chuvas e início dos passeios de balão). Os preços são acessíveis, a partir de 60 dólares, todavia, saíam cedo e teria que ficar 1 dia em Mandalay, então a via aérea foi descartada

As companhias aéreas que operam voos domésticos em Myanmar: Golden Myanmar Airlines (http://www.gmairlines.com/), Mann Yadanarpon Airlines (http://www.airmyp.com/), Myanmar Nation Airlines (http://www.flymna.com/), Air Bagan (http://www.airbagan.com/), Air KBZ (http://airkbz.com/), Yangon Airways (http://www.yangonair.com/index.php/en/), Air Mandalay (http://www.airmandalay.com/), Asia Wings Airways (http://asianwingsair.com/) e Myanmar Airways International (http://maiair.com/).

Além do avião, sobram outras 4 formas de ir de Mandalay até Bagan: barco, trem, ônibus e van (minibus). 

Avião
Leva cerca de 40 minutos para chegar ao aeroporto de Nyaung-U. As passagens custam a partir de 60 dólares. 

Trem
O trem sai do centro de Mandalay às 21 horas. Leva cerca de 10 horas para atingir o destino. Custa entre 4 e 10 dólares.

Barco
É uma boa opção para quem tem mais tempo. A empresa MGRG faz o trajeto diariamente. Os preços são variados, custando a partir de 45 dólares.

Ônibus
É mais confortável que a van (tem espaço para as pernas), mas não sai do centro de Mandalay. Leva entre 5 e 7 horas. Sai de Mandalay Highway Bus Terminal (10 km do centro) ou Kwe Se Kan Bus station. Além de não ficar no centro, também deixará longe do centro de Bagan. Custa 8 dólares. O melhor ônibus é Shwe Man Thu Express, segundo minha pesquisa.

Van
Saem do centro de Mandalay e também recolhem passageiros nos hotéis. Entrei no site http://www.myanmarbusticket.com e fiz uma consulta (foram muito prestativos). Disseram que poderia comprar o tíquete da companhia OK Express, saindo às 14:30h, pois meu voo chegaria às 12h. O site indica 8 horas, mas o percurso pode ser feito em 4 horas, em dias normais.

Ao consultar o site do aeroporto de Mandalay, encontrei uma valiosa informação sobre o táxi compartilhado e tabelado. Os valores são:

4,000 Kyat – Táxi compartilhado
12,000 Kyat – Táxi privado
15,000 Kyat – Táxi privado com ar-condicionado

 
Kyat, a moeda de Myanmar

Assim que o avião aterrissou, passei pela imigração, que não fez qualquer pergunta. Apenas mostrei o visto. Tiraram uma fotografia com a webcam e carimbaram o passaporte. Na área para pegar a bagagem tinha uma casa de câmbio. Em tese, pagam menos dentro do aeroporto, mas não queria correr risco de sair sem a moeda local. A conversão ficou 1 dólar = 1.250 kyats. Troquei 100 dólares, que foi o suficiente para 5 dias em Myanmar.

O lado bom de converter no aeroporto: os birmaneses preferem receber em dólar, mas a conversão fica 1 dólar = 1.000 kyats. Ao sair do aeroporto disse que queria um "shared taxi" e fui levada para uma van, que estava com outros passageiros. Peguei o celular e mostrei onde iria ficar (no escritório da OK Express: 25th street, Between 86th & 87th street, near Zay Cho Clock Tower). Dentro da van tinha um casal de norte-americanos conhecendo o 76º país e uma alemã, que fica por muitos meses em cada cidade que passa (bateu uma inveja, admito).

O aeroporto de Mandalay fica a 35 km da cidade, ou seja, distante da cidade. O percurso levou cerca de 1 hora e choveu torrencialmente. As ruas estavam alagadas. Assim que chegou no centro senti um choque cultural. Fui a primeira pessoa a ser deixada. Ajudaram-me a pegar a mala e pulei sobre o rio que se formava.
Entrei no escritório da Ok Express - que era literalmente um barraco de madeira. O negócio era gerenciado por uma mulher e alguns homens. Dentro havia uns 15 homens de longyi (um tipo de saia) e todos me olharam, provavelmente porque não havia um turista no local. Disse que queria uma passagem para Bagan. O homem riu e indagou "Você não comprou antes?". Naquele momento senti um frio na espinha. Imagina ficar ali por horas? Olhou os papeis sobre a mesa e disse "18.00 kyats". Aí questionei que era uma única pessoa (sabia que o preço cobrado online era cerca de 11 dólares). Retrucou: "Sozinha? Então é 9.000 kyats. Assento número 15." Pedi para ir ao banheiro e presenciei cenas de terror. O lugar era inabitável, mas minha bexiga deixou claro que a natureza é sempre mais forte.

Depois fiquei sentada, estava com fome, mas chovia muito para caminhar pelas ruas e procurar alimento. Ali vi cenas memoráveis, mas não tive ânimo para fotografar. Monjas com suas roupas rosas caminhando, centenas de bicicletas, homens com seus longyis, mulheres com o rosto pintado de thanaka. Foi um quase-transe que tomou conta de mim.

A van chegou e só tinha pessoas locais aguardando. Além de mim, vi que tinha um casal de turistas chineses no interior do automóvel. O assento 16 era individual, mas sem lugar pra colocar as pernas, pois fica sobre a roda. A viagem foi surreal. Um homem que estava atrás de mim pegou um saco de plástico preto e começou a cuspir e vomitar por todo o caminho, queria pensar que era folha de betel com noz de areca (costume dos homens daquele país), mas fiquei tensa e cogitei que poderia ser tuberculose. Não tive sossego e não queria respirar. Suava sem sentir calor.

A tortura não tinha terminado, pois estava com fome (o último lanche foi dentro do avião) e esperava comer na parada. Assim que a van estacionou me deparei com pessoas locais vendendo animais fritos que não conseguia identificar. Podia ser algum pássaro? Ovos de codorna. Caminhei para o banheiro e nunca vi tanto lixo em um local. É óbvio que não consegui comer nada. Senti saudade da comida de rua de Bangkok. Ficaria feliz com uma simples fruta!

 
Aquela casinha de madeira lá atrás é um banheiro
 
A estrada é péssima e estava chovendo, portanto, o percurso durou 6 horas, quando o comum é chegar em 4. Nunca sofri tanto, mas passou. A van vai parando e deixando as pessoas. Parou na rodoviária e depois só ficaram os 3 turistas. Seguimos até o escritório da Ok Express em Bagan. O chinês foi perguntar se não nos levariam até os hotéis (eles buscam e deixam nos hotéis). O motorista disse para o casal "Vocês vão de táxi. 10 mil kyats". Já estava revoltada e perguntei "E eu". Ele mandou esperar. Veio um transporte típico do país: um caminhonete que aqui é conhecida por "pau-de-arara". Perguntei quanto era e disse que não custaria nada. Os locais me ajudaram com a mala. Estava absolutamente escuro, já que Bagan não tem iluminação pública. Minha condição física e psicológica não era das melhores.
O pau-de-arara parecido com o que andei

De repente vi um hotel bonito, todo iluminado e a caminhonete entrou. Nunca fiquei tão feliz na minha vida! Um funcionário veio me buscar. Dei tchau pro povo do "pau-de-arara". Fiz o check-in, me ofereceram um chá gelado e me levaram para o quarto. O hotel escolhido foi o "Bagan Umbra hotel", perto de Old Bagan.

Deitei e estava acabada. Tomei um banho demorado e quando olhei pro relógio já passava das 21h. Precisava comer urgentemente! Pesquisei no Tripadvisor o melhor restaurante próximo. Fui na recepção e me disseram que estava aberto. 21h35.

Na saída do hotel vários cachorros começaram a latir (tenho pavor de cachorro, com exceção do pug da minha sobrinha), mas um funcionário veio para espantá-los. Caminhei na escuridão e em 3 minutos cheguei no restaurante "Queen". Tem uma decoração bonita, apesar de ser um lugar simples. Peguei o menu e perguntei qual era o prato típico. A garçonete disse "Curry". Pedi um curry vegetariano (a culinária birmanesa sofre mais influência da vizinha Índia) por 4.000 kyats e um suco maravilhoso com limão, mel e tamarindo (2.500 kyats).

Me trouxeram amendoins (é um petisco da região) e rapidamente a comida foi entregue. O curry era gostoso. O arroz estava quente. Tinha tomate com amendoim, vegetais bastante apimentados, uma verdura com cebola. Um turista sentou na mesa ao lado e pedi para tirar uma foto minha. Depois ele perguntou o que achei do curry. Começamos a conversar. Era um israelense que tem uma empresa de turismo. Levaria um grupo grande para Myanmar no mês seguinte e viajou antes para fechar os passeios e hoteis. Perguntou onde estava hospedada e voltamos juntos. Perguntou se queria conversar perto da piscina e disse que estava cansada. Caminhei para o meu quarto e desabei na cama para me recompor com um sono profundo.

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